Veja onde ir desta para a melhor em grande estilo. Prefere transformar seu enterro numa balada? Aí é na Indonésia. Para subir ao céu, Tibete. Veja onde ir desta para a melhor em grande estilo.
Ou nem tanto
TANA TORAJA, INDONÉSIA
PARA MORRER E CONTINUAR NA BALADA
Esta é para os festeiros. Quando alguém da tribo toraja morre, sua família reúne centenas de parentes e amigos por 3 dias num banquete para o qual mais de 100 porcos e 20 búfalos são sacrificados. Eles acreditam que o espírito irá ao céu montado nos búfalos - se o animal for albino, que custa o mesmo que um carro popular, chegará ainda mais rápido. Depois do funeral, o cadáver é deixado exposto à visitação em cavernas ou pendurado em penhascos, onde recebe oferendas, de cigarros a ventiladores - para não sentir calor na próxima vida. O detalhe é que poucas famílias têm dinheiro para bancar na hora a festança; portanto, o defunto precisa passar meses, às vezes anos, deitado na cama esperando pelo funeral. Enquanto isso, é tratado como vivo. Haja formol.
TIBETE
PARA IR DIRETO AO CÉU
É um lugar dos mais bonitos para você morrer, desde que não se importe em ser comido por abutres. Na tradição tibetana, o corpo, já em decomposição há 3 dias, é deixado nu ao nascer do sol sobre o topo de uma rocha onde "coveiros" separam a carne dos ossos. A carne é picada bem pequenininha e os ossos, triturados com uma marreta. Rapidamente pássaros surgem para não deixar sobrar nenhum naco (a não ser o crânio, que alguns usam como caneca para tomar chá). Os chineses chegaram a proibir a cerimônia nos anos 60 - achavam bárbaro demais. Mas depois liberaram - para os tibetanos, ela é um ato de generosidade essencial: você abre mão de sua carcaça sem espírito para alimentar seres vivos e, de quebra, acumula bom carma. Mas a origem desse funeral pode estar num fato bem menos espiritual: naquelas altitudes, árvores são escassas demais para ser gastas em crematórios, e o chão rochoso não permite enterrar o corpo. Pelo menos é uma garantia de ir para o céu, ainda que em bico de urubu.
VARANASI, ÍNDIA
PARA SE LIVRAR DO CICLO DA REENCARNAÇÃO
Quando sentem a morte chamar, hindus velhos ou doentes peregrinam até essa cidade fundada há 5 mil anos às margens do rio Ganges pelo deus Shiva e esperam em hospedarias pela morte. Cremar o corpo com os devidos rituais garante que o espírito saia da carne. Mas, se isso for feito em Varanasi e as cinzas forem jogadas no rio sagrado, Shiva vai cantar no pé do ouvido do defunto, libertando-o também do sofrimento do samsara, o ciclo eterno de nascimento, morte e reencarnação. Claro, se estiver demorando muito para morrer, uma dose diária da água do Ganges pode dar uma mãozinha - a alma é purificada e o corpo, atacado pelo 1,5 milhão de coliformes fecais por 100 ml, 600 vezes mais que o limite para a água ser considerada potável. É tiro e queda. Como resultado, mais de 100 corpos queimados ao ar livre por dia no crematório mais popular da cidade, cercados por seus familiares - e por legiões de turistas.
SUÍÇA
PARA MORRER COM ASSISTÊNCIA MÉDICA
Somente na Holanda, na Bélgica e em Luxemburgo a eutanásia ativa é legalizada - ou seja, só lá médicos podem receitar e administrar drogas para terminar a vida de pacientes em sofrimento. Mas, mesmo que ela seja ilegal na Suíça, o país virou um destino de turismo para doentes terminais. Desde 1941 sua lei permite o suicídio assistido - isto é, o médico pode receitar drogas letais, mas quem tem que aplicá-las é o paciente. Até aí, outros lugares, como os estados americanos de Oregon, Montana e Washington, também permitem. Mas na Suíça a lei vale também para estrangeiros, mesmo que em seu país de origem a cumplicidade em suicídios seja crime. O resultado é o turismo suicida: a clínica Dignitas, localizada num bairro residencial de Zurique, oferece doses de barbitúricos por US$ 6 500. A fila de espera para morrer tem centenas de estrangeiros, a maior parte da Alemanha e do Reino Unido.
DZERZHINSK, RÚSSIA
PARA MORRER INTOXICADO
Um quarto dos moradores desse antigo centro secreto de produção de armas químicas da URSS continua trabalhando em fábricas que produzem elementos tóxicos a 400 quilômetros de Moscou. Até 1998, 300 mil toneladas de lixo químico eram jogadas todo ano no solo, que permanece hoje contaminado por metais pesados. O resultado é uma expectativa de vida de apenas 45 anos (27 abaixo da média russa e 28 menos que a brasileira) e uma taxa de mortalidade 260% maior que a de natalidade. Não muito melhor é a também russa Norilsk. A cidade, na Sibéria, tem hoje o maior complexo metalúrgico do mundo, que libera no ar 4 milhões de toneladas anuais de cádmio, chumbo, arsênico, selênio e zinco.
CIUDAD JUAREZ, MÉXICO
PARA SER ASSASSINADO
É o lugar mais perigoso do mundo fora das zonas de guerra. Cravada na fronteira do México com o Texas, Ciudad Juarez é a torneira de cocaína dos EUA. É que sua vizinha texana, a cidade de El Paso, funciona como um rodoanel nacional: várias estradas importantes dos EUA se encontram por ali, o que facilita a distribuição do pó. Um cartel dominou o tráfico ali por 20 anos. O monopólio deixava as coisas em paz. Só que há dois anos uma gangue rival começou uma batalha para destronar o cartel. O governo reagiu e declarou guerra ao tráfico. Aí sobrou para todo mundo: foram 2 660 mortos em 2009 - contra 2 412 civis mortos no Afeganistão no mesmo ano, o mais mortal desde a invasão da Otan. Isso dá uma taxa de mortalidade de 204 pessoas para cada 100 mil habitantes. No Rio, foram 34 no mesmo ano. Em São Paulo, 11. Mas temos que fazer um mea-culpa: provavelmente qualquer cidade da Somália é mais violenta que essa, já que o país vive numa anarquia generalizada. Mas, se alguém foi lá tentar levantar dados, não voltou vivo.
fonte
Ou nem tanto
TANA TORAJA, INDONÉSIA
PARA MORRER E CONTINUAR NA BALADA
Esta é para os festeiros. Quando alguém da tribo toraja morre, sua família reúne centenas de parentes e amigos por 3 dias num banquete para o qual mais de 100 porcos e 20 búfalos são sacrificados. Eles acreditam que o espírito irá ao céu montado nos búfalos - se o animal for albino, que custa o mesmo que um carro popular, chegará ainda mais rápido. Depois do funeral, o cadáver é deixado exposto à visitação em cavernas ou pendurado em penhascos, onde recebe oferendas, de cigarros a ventiladores - para não sentir calor na próxima vida. O detalhe é que poucas famílias têm dinheiro para bancar na hora a festança; portanto, o defunto precisa passar meses, às vezes anos, deitado na cama esperando pelo funeral. Enquanto isso, é tratado como vivo. Haja formol.
TIBETE
PARA IR DIRETO AO CÉU
É um lugar dos mais bonitos para você morrer, desde que não se importe em ser comido por abutres. Na tradição tibetana, o corpo, já em decomposição há 3 dias, é deixado nu ao nascer do sol sobre o topo de uma rocha onde "coveiros" separam a carne dos ossos. A carne é picada bem pequenininha e os ossos, triturados com uma marreta. Rapidamente pássaros surgem para não deixar sobrar nenhum naco (a não ser o crânio, que alguns usam como caneca para tomar chá). Os chineses chegaram a proibir a cerimônia nos anos 60 - achavam bárbaro demais. Mas depois liberaram - para os tibetanos, ela é um ato de generosidade essencial: você abre mão de sua carcaça sem espírito para alimentar seres vivos e, de quebra, acumula bom carma. Mas a origem desse funeral pode estar num fato bem menos espiritual: naquelas altitudes, árvores são escassas demais para ser gastas em crematórios, e o chão rochoso não permite enterrar o corpo. Pelo menos é uma garantia de ir para o céu, ainda que em bico de urubu.
VARANASI, ÍNDIA
PARA SE LIVRAR DO CICLO DA REENCARNAÇÃO
Quando sentem a morte chamar, hindus velhos ou doentes peregrinam até essa cidade fundada há 5 mil anos às margens do rio Ganges pelo deus Shiva e esperam em hospedarias pela morte. Cremar o corpo com os devidos rituais garante que o espírito saia da carne. Mas, se isso for feito em Varanasi e as cinzas forem jogadas no rio sagrado, Shiva vai cantar no pé do ouvido do defunto, libertando-o também do sofrimento do samsara, o ciclo eterno de nascimento, morte e reencarnação. Claro, se estiver demorando muito para morrer, uma dose diária da água do Ganges pode dar uma mãozinha - a alma é purificada e o corpo, atacado pelo 1,5 milhão de coliformes fecais por 100 ml, 600 vezes mais que o limite para a água ser considerada potável. É tiro e queda. Como resultado, mais de 100 corpos queimados ao ar livre por dia no crematório mais popular da cidade, cercados por seus familiares - e por legiões de turistas.
SUÍÇA
PARA MORRER COM ASSISTÊNCIA MÉDICA
Somente na Holanda, na Bélgica e em Luxemburgo a eutanásia ativa é legalizada - ou seja, só lá médicos podem receitar e administrar drogas para terminar a vida de pacientes em sofrimento. Mas, mesmo que ela seja ilegal na Suíça, o país virou um destino de turismo para doentes terminais. Desde 1941 sua lei permite o suicídio assistido - isto é, o médico pode receitar drogas letais, mas quem tem que aplicá-las é o paciente. Até aí, outros lugares, como os estados americanos de Oregon, Montana e Washington, também permitem. Mas na Suíça a lei vale também para estrangeiros, mesmo que em seu país de origem a cumplicidade em suicídios seja crime. O resultado é o turismo suicida: a clínica Dignitas, localizada num bairro residencial de Zurique, oferece doses de barbitúricos por US$ 6 500. A fila de espera para morrer tem centenas de estrangeiros, a maior parte da Alemanha e do Reino Unido.
DZERZHINSK, RÚSSIA
PARA MORRER INTOXICADO
Um quarto dos moradores desse antigo centro secreto de produção de armas químicas da URSS continua trabalhando em fábricas que produzem elementos tóxicos a 400 quilômetros de Moscou. Até 1998, 300 mil toneladas de lixo químico eram jogadas todo ano no solo, que permanece hoje contaminado por metais pesados. O resultado é uma expectativa de vida de apenas 45 anos (27 abaixo da média russa e 28 menos que a brasileira) e uma taxa de mortalidade 260% maior que a de natalidade. Não muito melhor é a também russa Norilsk. A cidade, na Sibéria, tem hoje o maior complexo metalúrgico do mundo, que libera no ar 4 milhões de toneladas anuais de cádmio, chumbo, arsênico, selênio e zinco.
CIUDAD JUAREZ, MÉXICO
PARA SER ASSASSINADO
É o lugar mais perigoso do mundo fora das zonas de guerra. Cravada na fronteira do México com o Texas, Ciudad Juarez é a torneira de cocaína dos EUA. É que sua vizinha texana, a cidade de El Paso, funciona como um rodoanel nacional: várias estradas importantes dos EUA se encontram por ali, o que facilita a distribuição do pó. Um cartel dominou o tráfico ali por 20 anos. O monopólio deixava as coisas em paz. Só que há dois anos uma gangue rival começou uma batalha para destronar o cartel. O governo reagiu e declarou guerra ao tráfico. Aí sobrou para todo mundo: foram 2 660 mortos em 2009 - contra 2 412 civis mortos no Afeganistão no mesmo ano, o mais mortal desde a invasão da Otan. Isso dá uma taxa de mortalidade de 204 pessoas para cada 100 mil habitantes. No Rio, foram 34 no mesmo ano. Em São Paulo, 11. Mas temos que fazer um mea-culpa: provavelmente qualquer cidade da Somália é mais violenta que essa, já que o país vive numa anarquia generalizada. Mas, se alguém foi lá tentar levantar dados, não voltou vivo.
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Silvana Marmo