O pegador

O pegador não passa de uma farsa. E aquele baixinho pançudo, quem diria, é quem faz um serviço de primeiro mundo
Ele entra e o ambiente congela por alguns segundos. Chegou o autêntico pegador. Ele tem amigos que o circundam e pegam carona em sua sensualidade. Ele tem ombros largos e pinta de bem-sucedido e olha as pessoas por cima, escolhendo a presa com a calma de quem pode escolher. Então, a mulher idiota (ou seja: todas) olha esse homem e pensa: “É esse”.

O cara que parou a balada, que paralisou a festa, que incomodou machos, que imobilizou olhares. Se mulher gasta 4 mil reais em uma bolsa, isso significa que ela quer ser vista com o melhor. Se mulher gasta 5 reais numa bolsa que imita essa de 4 mil reais, isso continua significando a mesma coisa: ela quer se enganar de que os outros se enganam de que ela pode ter o melhor. Se esse cara é um pegador ou apenas parece um pegador, não importa, o importante é pendurá-lo no ombro e sair pela noite. Então, você faz de tudo para ser notada e leva o moço para casa. E descobre que se trata de um completo loser sexual. Opção espalhada aos montes pela vida afora, principalmente em festinhas descoladas. No dia seguinte, suas amigas te ligam: e aí? Aquele gostoso? Aquela delícia? Aquele homem espetacular? Ah, minha amiga, mais uma farsa da vida moderna. E esse cara, o pegador-ator, esse que você levou pra casa pra mostrar ao mundo quanto é esperta, continua em sua função superficial. Sua função atuação. Depois de um sexo imbecil de 5 minutos, ele sorri, se espreguiça, se olha no espelho e tem a certeza, em algum lugar de seu cérebro ludibriado por seu ego teatral e amedrontado pela realidade, de que ele é um rei. De que aquele sexo oral ridículo foi uma dádiva dos céus. De que aquele beijo duro e deslocado foram poesias espalhadas pela cama. Ele, o erro do ano, sai de sua casa crente de que arrasou. E você, uma mulher com opinião, até quer falar pro cara “Tu mandou malzão, tu é bem ruinzinho mesmo, eu só gozei foi da sua cara, porque não é possível que você, depois desse ato vergonhoso, ainda esteja saindo da minha casa como se tivesse me comido com garfo e faca feitos com o ouro das joias da coroa”.

Mas sabe o quê? Você não pode falar nada, você merece, você comprou bolsa falsificada do porta-malas da sedução só para mostrar ao mundo igualmente falsificado que você se dá bem. Daí sua amiga te conta do Du, um baixinho pançudo que tem cheiro de rua, um cara que não entra nos lugares como se tivesse de equilibrar um troféu no queixo, não cheira a couro de carro importado com perfume de festa fechada da Europa. O Du não tem puxa-sacos, ele tem amigos. Ele não namorou modelos cheiradoras, ele namorou aquela mina gente fina que trabalha pacas para ver se emplaca alguma coisa legal naquele projeto bacana. O Du, que fofo, acha que galleterie serve frango. O Du é o cara que, comprovado por 789 mulheres que o serviram no escuro — com medo da opinião alheia —, faz um serviço de primeiro mundo. E o que suas amigas diriam se a vissem com o estranho do Du? Ah, elas diriam: “Que pele boa a sua, amiga!” Porque você tá trepando horrores enquanto muitas outras, coitadas, tão desfilando com algum playboy que acha que os olhos de sua mulher, ao ver o abdômen dele ou a conta bancária dele, são uma zona erógena. Toda menina só vira mulher quando desencana de tudo e passeia de mãos dadas com o Du, o verdadeiro pegador.

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