sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

E se... o mundo tivesse uma só...

FÉ?
Toda pessoa religiosa sonha em convencer o resto do mundo a acreditar na própria fé e a participar de seus cultos – enfim, em expressar os detalhes da religiosidade do seu jeito. “Se todos tivessem a mesma crença, viveríamos em regime totalitário. A religião dominaria a ciência, que só pesquisaria dentro dos preceitos da fé”, diz o professor de filosofia João Carlos Tavares, da Universidade de Lisboa, Portugal. E como seria essa fé planetária? Para Tavares, ela não teria como ser tão diferente das crenças que existem hoje. “As grandes religiões do mundo seguem dois princípios básicos”, afirma. “A aceitação do infinito, que geralmente se manifesta na crença em um ou mais deuses, e o princípio ético de não fazer aos outros aquilo que você não deseja a si mesmo.” A diferença está nos detalhes – que são muito importantes. Acontece que uma religião absoluta dificilmente duraria muito. Em pouco tempo, aspectos dela começariam a ser interpretados de forma diferente em cada lugar. Surgiriam novos rituais, e logo alguém, bem-intencionado ou não, fundaria uma seita com algum conceito um pouco diferente.

ETNIA?
Ainda que todos os 6 bilhões de habitantes do planeta fossem da mesma etnia, essa situação não se sustentaria por muito tempo. “Com o passar das gerações, o ambiente favorece determinadas alterações cromossômicas. Elas só não formaram novas espécies humanas por causa da migração, que sempre existiu, em todas as épocas”, explica a geneticista Maria Cátira Bortolini, da UFRGS. Depois de alguns séculos, repetiríamos a nossa origem; começamos como uma grande etnia e fomos nos diversificando. Mas agora esse processo aconteceria com algumas diferenças. Os meios de transporte evoluíram e se democratizaram, o que aumenta a migração e permite que pessoas vindas de lugares diferentes se encontrem e miscigenem muito mais facilmente do que na época em que as diferenças étnicas apareceram. Além disso, o avanço dos produtos que reduzem a ação do meio ambiente sobre nosso organismo reduziria as mudanças relativas à ação do sol ou do frio. Resultado: não seríamos uma única etnia por muito tempo, mas uma pessoa nascida na China não seria tão diferente assim de uma criança africana.

MOEDA?
A União Européia é o melhor laboratório para projetar um cenário de mundo com um sistema monetário unificado. A implantação do euro, há 7 anos, reforçou as maiores economias e espremeu as menores. A Alemanha cresceu, enquanto Portugal, Espanha e Itália, onde o custo de vida subiu da noite para o dia, estão sofrendo para se adaptar. “O grande drama da moeda única é que as taxas de câmbio desaparecem, e com isso o governo perde o poder de desvalorizar a própria moeda para compensar altas de preço”, explica o economista Paulo Gala, da Fundação Getúlio Vargas em São Paulo. “Sem esse mecanismo, o país precisa equilibrar a economia da forma mais dolorosa, que é provocando recessão e desemprego.” Se a Espanha, que tem um Produto Interno Bruto 2,5 vezes menor do que a Alemanha, já está sofrendo, imagine o estrago que uma moeda única planetária provocaria na Somália, que tem uma economia 2500 vezes menor do que a dos EUA. Um cenário mais interessante seria a diminuição do número de moedas no mundo, com regiões de economias parecidas unificando seu sistema financeiro.

LÍNGUA?
A melhor pista do que aconteceria nessa hipótese está na Bíblia. Depois que o dilúvio matou praticamente toda a humanidade, os sobreviventes criaram a cidade de Babel e construíram uma torre tão alta que deveria tocar os céus. Em resposta, Jeová fez com que todas as pessoas começassem a falar línguas diferentes. O mito bíblico da Torre de Babel mostra que o sonho de um idioma unificado, como imaginam os defensores do esperanto, é difícil de sustentar. Se só existisse uma única língua, rapidamente cada região desenvolveria as próprias gírias. “Com o passar de algumas gerações, surgiriam novos dialetos, cada vez mais diferenciados, até que o planeta estaria, de novo, povoado com novos idiomas diferentes uns dos outros”, diz a lingüista Rosauta Maria Galvão, da UFBA. Nesse caso, todos teriam a mesma origem. Seria um processo incontrolável e parecido com o que aconteceu com o latim, que virou o português, o francês e o italiano, entre outras línguas modernas. O idioma original deixaria suas marcas nas línguas que surgiriam, por exemplo, na estrutura das palavras e no modo de formular as frases.
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Um comentário:

  1. Silvana
    Os seus temas aborda normalmente questões profundas, o que me agrada sobremaneira.
    O problema da unificação, ou melhor a tentativa de uniformização, tem conduzido a humanidade á desgraça, que a meu ver não tem a ver com espiritualidade, mas com a sedução dos líderes, sejam eles quais forem, o que caímos na adoração do objeto, seguidores absolutos dessa figura.
    Uns seduzem, os outros deixam-se seduzir.
    Perde-se a referência das leis de Deus, que devia estar acima de qualquer figura, ou profeta, para garantir importância a questões mesquinhas, perdendo-se o foco da espiritualidade, olhando para o semelhante porque se apresenta desta, ou daquela maneira, por exemplo, ou por possuir determinada condição social. Esta percepção é diferenciada da opinião do filósofo citado, que a meu ver mistura uma visão Darwinista, Biológica / genética, que em si mesmo é reducionista quando se trata de espiritualidade, porque esta é produzida através da organização do conteúdo ideativo da mente humana.
    Pode existir uma diversidade de rituais, o que aliás, pode ser constatado por esse mundo fora, sem beliscar a espiritualidade.
    A meu ver,tentar arranjar argumentos na teoria de evolução, na tentativa de explicar a espiritualidade, é tentar chamar a ciência para um lugar que não lhe pertence.
    Um abraço

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Silvana Marmo