sábado, 24 de dezembro de 2011

Drogas e religião - Alucinógenos são proibidos no Brasil. Mas não para o Santo Daime. Isso é certo?

Os rituais do Santo Daime ganharam destaque na mídia em março, com o assassinato do cartunista Glauco por um dos fiéis de sua igreja. O alvo de tanta atenção foi uma das tradições da seita: o consumo da ayahuasca. Bebida alucinógena, a ayahuasca pode ser considerada uma droga. E drogas, você sabe, são proibidas no Brasil. Mas a ayahuasca é liberada desde que utilizada durante os cultos religiosos. Isso faz sentido? Faz.

O motivo: a liberdade religiosa de cada um. Graças à liberdade religiosa, podemos escolher e exercer as crenças que quisermos. Não precisamos esconder crucifixos, estrelas-de-davi, um exemplar do Alcorão. Para proteger essa liberdade, às vezes é necessário criar exceções ao que se considera ético, moral ou mesmo legal na sociedade, como a feita à ayahuasca. O problema é que algumas exceções acabam prejudicando o bem coletivo. É nessa hora que a fé de cada um deve encontrar um limite.

Fé é particular. Não deve interferir no direito dos outros. Quando isso acontece, estamos diante de um crime. Por isso, o consumo individual da ayahuasca no templo é válido - mas induzir alguém a bebê-la em outro contexto não. Testemunhas de Jeová vetam transfusões de sangue, por uma interpretação que fazem do texto da Bíblia. Isso é aceitável, já que cada pessoa é responsável pelo próprio corpo. Mas o que dizer de um pai que impede uma transfusão vital para um filho? É possível que a criança não sobreviva - em nome da religião. Em países como Arábia Saudita, condenações à morte são proferidas contra aqueles que abandonam o islamismo. Mais uma vez, em nome da religião.
Esses são crimes contra os direitos individuais, ainda que representem, também, uma manifestação de fé. E vão contra os próprios ideais que geraram a liberdade religiosa, nascida junto com a democracia moderna. Mesmo depois da Reforma Protestante, no século 16, pertencer a uma crença não era um direito individual. Ordem política e religiosa eram unidas - a religião de governados obrigatoriamente deveria ser a do governante. Só com o Iluminismo apareceram as formas jurídicas que protegem escolhas religiosas pessoais, justamente para que cada um pudesse escolher o melhor para si.
A discussão sobre liberdade religiosa no Brasil de hoje às vezes toma um rumo repressor. Apesar de laico, nosso Estado ainda é muito influenciado pelo catolicismo, praticado por mais de 70% dos brasileiros. E o catolicismo é uma religião dogmática - práticas que não se adaptem a ela não costumam ser toleradas (vide relações homossexuais e uso de métodos contraceptivos). No entanto, a Igreja se esquece de que foi a própria tolerância religiosa que a gerou. Não fosse uma estratégia do Império Romano de permitir que seus governados exercessem as crenças que quisessem, o catolicismo não teria prosperado no mundo. Isso significa que precisamos nos lembrar da importância da tolerância religiosa. Basta apenas que sociedade e Estado fiquem atentos para evitar que da fé surjam crimes.

12 comentários:

  1. Excelente sua postagem, Silvana. Realmente, dá o que pensar. Se por um lado temos a liberdade religiosa, por outro lado, temos o consumo cada vez mais voraz de tudo quanto é tipo de droga alucinógena. Se conseguissem que o ritual do Santo Daime ficasse restrito às suas comunidades de origem, sem a infiltração de pessoas de outras regiões ...ainda, quem sabe?
    O negócio é que a coisa se propaga e toma um vulto imenso . Quem sabe se essa droga fosse proibida, o grande e talentoso cartunista Glauco ainda estivesse vivo? Eu sei lá, posso até estar errada, mas a minha tolerância para as drogas é ZERO!
    Parabéns pelo post! BEIJOSSSSSSSSSSSS

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  2. Interessante ponto de vista!
    Realmente a religião influencia na decisão de muitas pessoas.
    Na minha opinião a lei deveria prevalecer sempre e para isso o sistema deve ser reavilido para evitar contradições!
    Excelente post!
    Gostei muito

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  3. Silvana
    Certo ou errado ?
    A realidade é que existe.
    A meu ver, não é da crença, nem da fé que surgem os crimes, mas do êxtase, que leva á exaltação das almas, vulgo idealismo, que pode resvalar para o fanatismo.
    De muitos exemplos destes reza a história, que nem Estado e sociedade, parecem ter condições para segurar.
    A sua atuação é sempre á posteriori.
    O tema merece reflexão, mas é muito complexo.
    Para mim, só existe uma regra sagrada - o respeito e consideração pelo o semelhante.
    Um abraço

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  4. Silvana

    Tenho páginas indicadas como pertencente ao seu blog, por exemplo - Relaxe e goze - que ao abrir, aparece a mensagem - Esta página não consta deste blog.

    Por acaso sabe o que se passa ?

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  5. Realmente a liberdade é certa mas, os formadores de opinião deveriam ser mais fiscalizados para que se evitasse determinadas circunstâncias degenerativas movidas pela fé falsa.
    Abraços forte

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  6. religiões são as maiores drogas alucinógenas que existem...

    fé cega, acreditar em tudo, ooo vidinha vazia e besta

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  7. Se for pra liberar a ayahuasca para o Santo Daime, liberem a maconha para os rastafaris tambem.

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  8. se for assim a maconha tem que ser permitida! entre os rastafari....

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  9. primeira coisa: o santo daime NÃO É DROGA, desafio qualquer um a apresentar provas científicas que demonstrem que a ayuasca é droga.
    segundo: o santo daime NÃO É ALUCINÒGENO, a ayuasca é uma substância enteógena.

    Ela apenas abre a janela do seu interior para que você mesmo tire suas conclusões a respeito dos seus atos.

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  10. Boa, Siegfried! Provem que a ayahouasca é droga... ninguém prova nada! Há estudos que comprovam ser um chá inofensivo à saúde, e por isso foi liberado pelo CONAD! Esse povo que não tolera o que não conhece é complicado! Esse é um dos motivos de existirem tantas guerras - a intolerância! Haja "paz ciência"...

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  11. Saudações!
    Amiga SILVANA MARMO:
    Realmente é uma situação delicada e preocupante. O problema maior é que não se sabe onde se encontra o limite da dose da liberdade. O certo é que, drogas e religião não devem andar de mãos dadas, eu acho. Agora, lhe confesso que eu não tenho conhecimento sobre a matéria.
    Parabéns por mais um magnífico Post!
    Abraços,
    LISON COSTA.

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  12. Foi postado aqui quanto o respeito a opinião religiosa e não social. Acho que a maioria que postou seus comentários deveria pelo menos estudar um pouco a respeito do Daime pra poder destacá-lo como droga ou compará-lo com a maconha. Infelizmente, nessa sociedade hipócrita, ainda veremos muitos desses comentários ridículos e vulgar.

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Obrigada pela visita e pelo carinho do comentário.
Volte sempre!
Silvana Marmo